sábado, 21 de agosto de 2010

E quando a nossa Terra ficar deserta?

Um nosso conterrâneo cá da terra, o Ricardo Branco enviou-me um excelente trabalho feito por ele sobre a desertificação do interior, é esse trabalho que aqui se publica, os nossos agradecimentos ao Ricardo e que envie mais trabalhos sobre a nossa Terra é o que desejamos.

E quando a nossa Terra ficar deserta?
E se de repente a nossa Terra perder a sua Gente? Levantar esta questão hoje faz talvez pouco sentido para muitos de vós, mas se atendermos ao que tem sido o lento mas constante processo de desertificação do interior facilmente concluímos que não se trata de uma miragem mas tão somente de uma tendência com forte probabilidade de vir a acontecer dentro de três décadas. A Freguesia da Comenda no seu auge demográfico chegou a contar com 2263 residentes na década de 50, distribuídos por 11 povoados dispersos. Em 2001 este número tinha decaído para os 982 residentes concentrados apenas em 4 povoados: Comenda, Ferraria, Vale da Feiteira e Vale de Junco. Embora estes números por si só não tenham qualquer significado, se olharmos para a sua evolução entre 1950 e 2001 verificamos que o decaimento demográfico é absolutamente linear com um coeficiente de correlação de 0.99 e isto sim é surpreendente e simultaneamente preocupante.

Fazendo uma extrapolação desta tendência verificamos facilmente que a Freguesia da Comenda no seu conjunto perdeu em 40 anos mais de 1000 habitantes, pelo que a manter-se a mesma cadência no decaimento demográfico (cerca de 25 habitantes por ano), significa que, pelas minhas contas, por volta de 2040 não restará vivalma nesta Terra singular do Alto Alentejo. Passaremos à história como tantas outras aldeias fantasma que um dia teve a sua gente, os seus saberes e as suas tradições. Para os mais incrédulos deixo uma previsão que podem facilmente comprovar na próxima operação censitária a realizar já no próximo ano – em 2011 serão apenas 734 os habitantes na Freguesia da Comenda! Para os outros há que pôr mãos à obra criando mais oportunidades de desenvolvimento local, valorizando o património humano e cultural existente e acima de tudo incentivando o crescimento da natalidade.

Ricardo Branco, 01.09.2010

2 comentários:

  1. Muito interessante estudo sobre o lento (mas seguro) colapso da nossa aldeia. Parabéns ao seu autor. Para o Castelo (como para centenas de outras localidades do interior) o progresso não passa de uma utopia. Sem ajuda externa que incremente a fixação dos mais jovens, nada feito. Tanto mais que os sucessivos governos têm contribuído para lançar a população daqui para fora, ao terem contribuído para fechar todas as fontes de vida : centro de saúde, escola (a nossa só não foi à viola já este ano por um triz), etc, etc. Quanto ao incentivamento da natalidade numa terra de velhos (é o meu caso e o da maioria esmagadora dos nossos conterrâneos), defino-o como Missão Impossível...

    ResponderExcluir
  2. É verdade que os incentivoas à fixação de pessoas na nossa terra é de certa forma reduzido, ou mesmo inexistente. Mas na minha opinião tem que partir dos mais novos e que acreditam nas potencialidades da nossa terra fazer algo para que se possa inverter esta situação. Eu pessoalmente quero tentar abrir um negócio, mas dadas as dificuldades que se vivem torna-se um pouco complicado.

    ResponderExcluir