quinta-feira, 27 de agosto de 2009
DIVAGANDO SOBRE AS CEGONHAS, AVES EMBLEMÁTICAS DA NOSSA REGIÃO
Todos os estados da União norte-americana (que são 50) escolheram, há já várias décadas, o pássaro que os simboliza. A escolha recai, geralmente, numa ave que, por ser tão abundante, merece, naturalmente, a atenção das autoridades regionais; ou que, ao contrário, por ser uma espécie tão rara, acaba por receber -por parte do estado que a escolheu por emblema- uma protecção oficial, que a preserva da extinção. Refira-se, a título de exemplo, que o estado do Alasca escolheu a carriça; que o Maryland optou pelo chamado verdelhão de Baltimore; e que o Novo México preferiu o papa-léguas, um curioso pássaro corredor da fauna local (Geococcyx californianus, de seu nome científico), que toda a gente conhece graças a um famoso desenho animado.
Às vezes ponho-me a matutar que, se as nossas antigas províncias seguissem esse exemplo, também seria fácil escolher uma ave-tótem, um pássaro emblemático para cada uma delas. À Estremadura seria atribuída a gaivota, por ser uma espécie característica dos portos de Lisboa e de Setúbal, das furnas de Cascais e abundante nas Berlengas, onde há uma colónia vastíssima dessas aves marinhas. Ao Minho não se negaria o galo, associado, como se sabe, a uma antiga lenda de Barcelos. Ao Baixo Alentejo caberia a abetarda, o pássaro de maior porte do nosso continente, que tem uma das suas colónias mais significativas nos campos situados entre Beja e Castro Verde. O arquipélago da Madeira ficaria com a cagarra, a maior ave marinha que por lá nidifica . A Beira Baixa escolheria o grifo, uma ave de rapina que passeia a sua imponência por cima das Portas do Ródão. Para Trás-os- Montes ficaria a colorida e arisca perdiz. Os Açores não necessitam que lhes escolhemos um símbolo alado, porque a ave que simboliza as nove ilhas já figura no seu nome e na bandeira da região autónoma. O Ribatejo talvez quisesse ter por emblema a elegante garça boieira, uma espécie que se vê, com frequência, na companhia do gado bravo criado nas suas lezírias. Quanto à região onde vivemos, o Alto Alentejo, penso que a escolha que se impõe também é natural : a cegonha branca seria o nosso estandarte, pelo facto de aqui existir aos milhares e nidificar por todo o lado, inclusivamente nos limites da nossa freguesia.
Lembro-me de ter assistido (há já uns bons anos, em França) a uma campanha turística a favor da Alsácia, que utilizava a cegonha como cartaz para atrair os visitantes. Isto numa época em que -naquela região fronteiriça- apenas nidificavam uma dúzia de casais dessa ave pernalta, que nós tão bem conhecemos. E pasmo com o facto de nós negligenciarmos esse trunfo, que poderia trazer à nossa região imensas pessoas interessadas pelo turismo dito ecológico. Reparem (na época própria) no belíssimo espectáculo proporcionado pelas muitas dezenas de ninhos (habitados) que se alinham com a estrada nacional que nos conduz a Ponte de Sôr. E meditem no proveito que se poderia tirar dessa maravilha.
Refira-se, enfim, que a cegonha branca até já é para nós, e em certa medida, esse emblema de que falámos, pois tem honras no cancioneiro transtagano, que lhe dedicou a letra de várias cantigas, sendo a mais formosa e divulgada, a melodia de autor anónimo que aqui vamos deixar. Para puro gozo dos nossos leitores, que, porventura, até já a terão cantado...
«Senhora Cegonha»
Senhora cegonha,
Como tem passado ?
Não há quem a veja,
Não vai à igreja
Pousar no telhado.
Senhora cegonha,
No bico um raminho,
Anuncia a hora
De se ir embora
Do seu belo ninho.
No seu belo ninho
Ponha ovos, ponha,
Que seja bem-vinda,
Branquinha tão linda,
Lá vem a cegonha.
Quando chega Agosto,
Um bando levanta,
Anuncia a hora
De se ir embora,
Leva a meia branca.
Manuel Monteiro Silva
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Não quereis mesmo vêr, embora me parecendo que vós sabeis, que parecendo que vos estais esquecendo, dantes, que antigamente, a dita, a dita cegonha, terras de França, terra da liberdade, da liberdade, fraternidade e igualdade, de lá, agora me parecendo que está fazendo gazeta, de lá, os bébés, a docura, o fruto do amor, a união de dois opostos, os bébés ela trazia, que quando chegava, que quando chegava em vossas terras, o fruto do amor no colo de sua mãe deixava...
ResponderExcluirO´LUIS
Gostava de dar seguimento ao apontamento anterior, acho muito engraçado as histórias, aquilo que se contava, aquilo que nossa mente formava, essa da cegonha é muita gira, mas não, apenas reforçar o pensamento do amigo Manuel Monteiro Silva, sua visão de turismo ecológico, que a coisa talvez se pudesse fazer naquilo que vos liga a Gavião, que em 1982 era só dois ninhos, neste ano que está a terminar são cinco, que cegonha parece que é sinónimo de contemplação filosófica, que quando lhe dá na mona de bater o bico, me parece que o relógio da vossa terra, que por vezes dá horas...
ResponderExcluirO´LUIS
Não sei o que se passa, no " Vale de Tóquio ", no Vale da Feiteira, o meu conhecimento nem sequer sonha o que passa também na Ferraria, certamente qualquer coisa também tem, sem entrar no simbolismo da mesma um universo de bons presságios ela transporta, só foi possível o aumento da sua população porque os ambientalistas da Quercus se movimentaram na década de oitenta, que quando ela voa baixinho sobre os telhados das vossas casas e habitações, um avião branco, um avião que não faz barulho, é um sentimento de paz que se sente e um regalo para os olhos, que me parece que as armas da guerra, elas, as armas, elas também se silenciaram...
ResponderExcluirO´LUIS
Já encontrei referências à cegonha como simbolo da contemplação filosófica, como simbolo do cristianismo por parte de sua alimentação ser de répteis(associados à serpente do mal), ou ainda ao nascimento(a antiga história da cegonha que entrega o bebê até o seu novo lar). Gostei de conhecer um pouco mais destas aves emblemáticas, como dizes e realmente me parecem ser, no texto!
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