sábado, 13 de março de 2010

A Samarra

Na sequência de um texto que já aqui colocámos sobre o capote alentejano, cá vão umas linhas sobre outra peça vestimentar : a samarra.

Outrora muito apreciada na nossa região, parece que a samarra teve a sua origem no Ribatejo em época que não conseguimos determinar; propagando-se, depois, o seu uso pelas províncias vizinhas do Alto Alentejo e da Estremadura, antes de se difundir por todo o território de Portugal continental. Muito apreciado pelo conforto que proporciona ao seu utilizador, sobretudo no Inverno, este agasalho (quase sempre masculino) é confeccionado com fazenda de lã, devidamente forrada com cetim acolchoado. A rústica samarra é, geralmente, adornada com uma gola em pele de raposa, mas esse aconchegador enfeite também pode ser confeccionado em fazenda ou com pele de borrego. Esta vestimenta (actualmente em desuso), cujo comprimento nunca ultrapassa o meio da perna, apresenta-se, quase por norma, em tons de cinzento, castanho, azul escuro ou preto. É fechada na frente com cinco grossos botões de massa, de cor a condizer com o tecido. Parece que o único lugar do nosso país onde ainda se fabricam samarras é uma pequena fábrica de Santa Eulália, localidade do concelho de Elvas. Que é também, curiosamente, a última empresa a confeccionar um outro agasalho em vias de extinção : o nobre capote alentejano.
O autor destas linhas viveu largos anos em França, numa região de clima rigoroso : a Alta Normandia. E recorda-se que, nos primeiros anos da década de 60 (do século XX, obviamente), identificava os muitos portugueses que por ali apareciam (depois de darem o famoso ‘salto’) pelas samarras que usavam. Era geralmente gente originária das serranias de Trás-os-Montes e da Beira Alta, que já usava, naturalmente, essa vestimenta nas suas terras, onde as samarras os ajudavam a afrontar os rigores de Invernos que também não eram (e não são) para brincadeiras. E já agora, só mais um detalhe : estou desconfiado que os empregadores franceses que davam trabalho a esses nossos compatriotas nortenhos, também escolhiam esses homens pequenos e rudes pelo aspecto peculiar que lhes conferiam as tradicionais samarras; que eram, pode o escrevinhador destas linhas testemunhar, trabalhadores infatigáveis e disciplinados.




Manuel Monteiro Silva

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