quarta-feira, 23 de setembro de 2009

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ORIGENS HISTÓRICAS DA COMENDA E SUA EVOLUÇÃO POPULACIONAL, ATÉ 1960






A Comenda, que é uma das mais importantes freguesias do concelho de Gavião, é, por vezes, também designada pelos nomes extra-oficiais de Castelo da Comenda e de Castelo ou do ainda oficial, mas já pouco usual nome de Castelo Cernado. Todos estes topónimos deixam supor que a povoação foi, outrora, defendida por uma fortaleza. Ora, não existindo nos limites actuais da nossa aldeia o mínimo vestígio de muralhas, temos de pensar, logicamente, que se castelo houve aqui para defender um qualquer aglomerado populacional, decerto se edificou fora do perímetro do burgo dos nossos dias.
A propósito da existência da misteriosa fortaleza, diz-nos o «Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses» o seguinte : «No cimo do outeiro, cota 249 m, em que está edificada a antiga povoação de Castelo Cernado, situada a 3 km da margem esquerda da ribeira de Cabeça Cimeira, na povoação de Comenda, a 4,2 km da sua confluência com a ribeira de Braça e a 14,5 km a sudeste da vila de Gavião, encontram-se ainda ligeiros vestígios duma fortaleza. Tendo-se em atenção a sua situação e natureza, a evolução geológica e a observação antropológica dos seus habitantes, é de presumir que na origem tivesse consistido num castro Lusitano...» e prossegue, «...foi depois tomada e ocupada pelos Vândalos, que remodelariam a defesa Lusitana, mas a nova fortaleza caíu em ruínas durante o domínio dos Mouros. Estando abandonada, teria sido reedificada por D. Sancho I, à volta dos anos de 1184 e doada aos freires do Hospital».
Se aceitarmos como válidas as explicações dadas pela obra acima mencionada, é, portanto, azado emitir a hipótese de que o antigo Castelo Cernado não estaria edificado nos limites da povoação que hoje existe, mas a cerca de 2 km da mesma, nas proximidades da Ribeira da Venda, no local onde subsistem vestígios de construções remotas, mas de época indefinida; salvo no que diz respeito à chamada ponte romana, que ela, é quase certo, fez parte de um complexo rodoviário que passava por Abrantes, Alvega, Gavião, Atalaia, Castelo Cernado, Tolosa, Flor da Rosa, Castelo de Vide e Marvão, ligando –nos recuados tempos da Lusitânia romanizada- Praesidium Julium (a actual Santarém) às regiões orientais do Império.
O enigma de Castelo Cernado parece resumir-se, pois, aos factos que provocaram o seu súbito desaparecimento e à data exacta do mesmo. É provável que isso se tenha verificado em época anterior a 1375, ano da promulgação da famosa Lei das Sesmarias, por D. Fernando I; já que foi, sobretudo a partir dessa histórica data que a necessidade de aproveitar, de maneira racional, os úberos solos da região se fez sentir com maior acuidade. Estando, portanto, a política fernandina e a dos seus imediatos sucessores virada para ocupação efectiva da terra é, nesse caso, impensável que o antigo Castelo Cernado tenha desaparecido em época posterior ao tal ano de 1375.
A localidade deve ter renascido no sítio actual, aquando da vaga de operações de povoamento intensivo que se verificou, com mais vigor, a partir dos fins do século XIV. Castelo Cernado passou a depender, de imediato, da jurisdição de Belver, cujo senado administrava, por essa altura, uma circunscrição territorial que abrangia o almoxarifado de Amieira, Maninhos e o priorado do Crato.
No século XVI, o rei D. Manuel I atribuíu ao povo de Comenda várias regalias, nomeadamente no domínio do aproveitamento quasi-exclusivo de certos baldios, como consta do foral de Belver, datado de 13 de Maio de 1518. O mesmo soberano doou, no ano de 1527, a povoação e terras adjacentes ao Grão-Priorado do Crato. Diz-se no cadastro de doação, que voluntariamente transcrevemos na arcaica língua do tempo, o seguinte : «esta commenda he do priolado do crato e he sufraganha a bellver que tambem he do priolado e he em casaes apartados tem ell Rey noso senhor as sysas e tem o Ifante a jurdyçam e rendas e tem hua freguesia e moradores em casaes apartados – 57. Comfrontação parte o llemyte desta commenda com o termo de myeira ao nordeste e tem de termo pera esta parte mea llegoa e são desta commenda ha myeira duas llegoas; parte com o termo de tolosa ao levante e tem de termo para esta parte mea llegoa e he desta commenda a tolosa hua llegoa; parte com terreno de logomil ao poente e tem llimite pera alla mea llegoa e he desta commenda a logomil hua legoa; parte com ho de gavjão no noroeste e tem de llimite pera esta parte hua llegoa e he desta commenda ao gavjão hua llegoa e mea».
A Comenda tinha, pois, no limiar do segundo quartel do século XVI, como nos revela o precioso documento, apenas 57 habitantes !
A entidade donatária passou a designar a terra, a partir do momento da doação feita pelo Rei Venturoso, pelo nome de Nossa Senhora da Graça da Comenda e concedeu-lhe o título e as prerrogativas de «reitoria da apresentação do Grão-Priorado do Crato».
Em 1757 recenseavam-se, na Comenda, 93 fogos e assinalava-se que a freguesia vertia ao reitor local uma côngrua constituída por 3 moios de trigo, 45 alqueires de centeio, uma pipa de vinho e 1 cântaro e meio de azeite, além de 2 000 réis em dinheiro.
No ano de 1789 a Comenda passou, com os demais bens do Grão-Priorado, para a Casa do Infantado, organização patrimonial surgida no reinado de D. João IV, a fim de dotar com rendimentos próprios o príncipe D. Pedro, filho segundo do Restaurador; filho segundo que acabaria, no entanto, por cingir a coroa de Portugal, em prejuízo do seu desventurado irmão D. Afonso VI. A Casa do Infantado foi extinta em 18 de Março de 1834, no quadro da acção política de Joaquim António de Aguiar, o Mata-Frades, e os seus bens integrados na Fazenda Nacional; que vendeu, depois, em hasta pública, os valores imóveis.
Entretanto, a Comenda continuava a desenvolver-se, pois, em 1874, registava-se na nossa terra a existência de 160 fogos, cujos habitantes continuavam a contribuir para o sustento do pároco da freguesia com a mesma côngrua de 1757. Em 1900 a população era de 992 pessoas, distribuídas por 261 moradias. Em 1920 havia na localidade 1 445 habitantes e, 10 anos mais tarde, estes já eram 1 801, em 449 fogos. O censo de 1960 revelou que a população da freguesia da Comenda subira para 2 011 pessoas, que habitavam 619 fogos, distribuídos pelos seguintes lugares : Carqueijosa, Castelo Cernado, Ferraria, Machoqueira, Outeiro, Polvorão, Polvorosas, Vale da Feiteira, Vale de São João, Vale do Grou, Vale de Junes e herdades de Brito e Gouveia.

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O seu a seu dono. Estas linhas foram elaboradas com base nos estudos efectuados por um comendense (cujo nome ignoramos, infelizmente), que os publicou em «A Voz da Comenda», jornal do período pós-25 de Abril, que teve vida efémera. Se essa pessoa reconhecer o seu trabalho (neste texto bastante modificado), queira identificar-se. E receber os nossos sinceros agradecimentos pelas informações preciosas que nos deixou sobre a génese da nossa aldeia e sobre a sua evolução populacional.

4 comentários:

  1. Ele sente o desejo de vos tornar visível, de salientar para começar se diga, para encetar seus comentários, o jornal " VOZ da COMENDA " foi um periódico mensal que existiu em terras de Comenda e sua durabilidade foi de quatro anos, de longos anos.
    Foi uma época muito complicada nessa campina que também teve o seu que de bela. Saíram vinte e nove números, na altura, vinte e nove Primaveras. A gente daí, o pessoal, a juventude, a ele se lhe chamava " Vc "...
    Como em tudo na vida, esta coisa do nascer e o morrer se está de passagem, seu nascimento, o seu nascer, ele nasceu a 22 de Fevereiro de 75, o seu deixar de existir, o seu acabar-se, ele se foi a 25 de Março de 1979, assim se comece por dizer, se diga, ele me dizia que se registe...

    O´LUIS

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  2. Mas que lhe permita a sua ínclita e nobre pessoa, no escudo se escondendo, ele interpelar a sua caneta, sua notável famosa pena, a dúvida nela tem, parece que continua, continua a bater na mesma tecla, e ainda...ufa!

    Seu amigo, o seua amigo e parente Mané Joaquim Abono, parece que dizia, também dizia, não é trinta, valá vinte e nove, que assim é que está bem...

    Mas o seu a seu dono, essas linhas escritas por ela, a César também o que é de César, não foi um, foram dois, a sua pesquisa e o seu testemunho lá deixaram, e as linhas, as linhas dela, ela vai beber nos dois.

    Mas com vinte e três letras existentes, seu amigo Abraham Shapiro a mensagem lhe passara, a sua pena, sua famosa caneta, com as vinte e três, o Universo das gentes de Comenda, quase a sua ínclita e nobre pessoa, quase o dominara...

    O´LUIS

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  3. Quando percebendo pelo ouvido e captando um som numa rádio local, um anúncio que passava e lhe falava de vossas terras, as suas medidas corporais lhe foram ultrapassadas...

    Quando sem querer e a intenção ele não a tinha, aquelas coisas que por acaso uma ocasião acontece fortuitamente, ao ler, interpretar um texto de Paula Pio, um sentimento tão forte que falava da piscina vossa e seu parque de merendas, as palavras, as palavras o abandonaram pelo mundo fabuloso que lá estava escrito...

    E no blog, este sítio onde nos encontramos, aquela força parece que ainda nos anima e nos continua a empurrar, ele ao dirigir a vista e olhando muito tempo e com atenção, " BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE ORIGENS DA COMENDA... ", arremessado ele foi para trás por um projéctil e um impulso muito grande o desmoronou e o derruiu...

    É uma palavra que fica. É apenas uma palavra que fica, a excelência, a excelência e a qualidade que parecendo que não tendo existência, que quando existe, que quando se declara e aparece, ela agita muito e uma grande mossa faz profunda...

    Mas lhe perdoai, assim ele me pede para vos pedir, doutorado ele não sendo, no presente de vossas vidas, a coisa, estas coisas, termina no Escudo de armas do vosso Brasão, e " Estrela ", " Estrela " não símboliza Nossa Senhora da Graça.

    Não é possível, o Reverendo Padre Patrão, nas Memórias do Concelho de Gavião, pág. 358, diz e escreve tão fácil de se ler, " em Janeiro de 1971, nasce a Associação Desportiva IFAL - Comenda ", ele, ele que pensava que tinha sido em 1974.

    Rogério de Carvalho, as suas sepulturas antropomórficas, aqueles sítios, aquele sítio onde a moura encantada os seus cabelos dourados, sentada, sentada ela os penteava, ele diz, o referido autor, na revista " A CIDADE ", nº 8 e 9 (Maio/Junho), págs. 63-68, ele disse que " as podemos considerar em termos cronológicos como da Alta Idade Média, mais concretamente entre os séculos VIII e XI, e o Alberto del Castilho, diz, " a sua produção recue ao séc. VII ", outros autores apontam outras datas...

    Mas que continuando ainda mais para trás, Alexandre de Carvalho Costa, in " Gaviao, distrito de Portalegre : suas freguesias rurais e alguns lugares : compilação do que se tem escrito a respeito da origem dos seus toponímios ", se ele pede, assim lho permita, ele me dizia, tenha o prazer de consultar José Leite de Vasconcelos, na sua ETNOGRAFIA PORTUGUESA, sentirá uma grande diferença entre as duas obras literárias, e, se demorar mais um bocado, verá que um CASTELO significa mais do que um castro, e ele não está falando em símbolos...

    O´LUIS

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  4. Mas mesmo para terminar, ele me obriga a findar esta etiqueta, sua ínclita e nobre pessoa, a sua caneta e sua notável pena, ao de leve e uma grande lição de história a essas gentes da COmenda e povo lhes deixou, ela parece que escreve, " O mesmo soberano doou, no ano de 1527 e diz o cadastro " e tem hua freguesia e moradores em casaes apartados - 57 ", mas, estas coisas parece que um mais sempre existe nelas, o falecido site da Junta de Freguesia de Comenda, dizia, dizia na altura da sua existência, o que agora ocupa o seu espaço também o diz " A tradição diz que houve peste naquele local, daí ter sido abandonado pelos seus habitantes. É este o local hoje apontado como a provável origem da Comenda, distando os dois locais cerca de 5 Km ".
    COmo é possível?

    Que fique registado, ele não diz que não houve Castro em vossas terras, não concorda no sítio onde se insiste em colocá-lo. Ele leva a coisa mais lá para o Vale de S. João, aquele vale que começa na Perna do Arneiro.

    Se Mário de Saa in VIAS da Lusitânia : o ITINERÀRIO de ANTONINO, diz que vossa terra não teve Castelo, que ele em tempos que escreveu, ele levou a coisa mais para o aspecto da Deusa Lua, se vos pede, apenas consultai a ETNOGRAFIA do José Leite de Vasconcelhos, e verás, castelo, estamos a falar de coisas materiais, castelo é, castelo pode ser outra coisa...

    O´LUIS

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