quarta-feira, 2 de setembro de 2009

IFAL- Industria Florestal do Alto Alentejo

Este trabalho é uma homenagem a todos os homens e mulheres que dedicaram parte da sua vida a esta fábrica que existiu na Comenda, e é particularmente dedicado aqueles que já faleceram.



A história real da primeira unidade fabril que existiu na nossa terra começa em 1962 com o inicio da sua construção, o proprietário do empreendimento era o Dr. Caldeira Coelho, que veio a falecer alguns anos depois, de acidente, diz-se que veio para a Comenda por influência do Dr. Jorge Bastos que era dono da herdade do Vale do Grou, e que doou o terreno onde a fábrica está sediada.
A Fábrica demorou cerca de dois anos a construir, a maior parte dos operários que trabalharam na obra eram da freguesia da Comenda, inclusive alguns deles entraram depois para a fábrica quando esta começou a funcionar.
A fábrica foi inaugurada em 31 de Março de 1964 pelo Exmo. Bispo de Portalegre, e chegou a funcionar com cerca de 73 operários a maior parte eram mulheres, da Comenda e arredores.
A matéria-prima utilizada de inicio era madeira de azinho, já que estamos no Alentejo e a azinheira é um produto predominante desta região, essa mesma madeira depois de passar por várias secções era transformada no produto final desta fábrica, o Parqué, que era uma peça de madeira rectangular e de tamanho reduzido, e era também produzido o taco como lhe chamava-mos aqui no Alentejo que era maior que o parqué e quase quadrado.
Esse parqué e tacos eram utilizados para pavimentar o chão das casas, o qual era muito utilizado na altura, inclusive tinha alguma saída para o estrangeiro principalmente para aqueles países mais frios.
Esta unidade fabril tinha diversas secções, tinha primeiro a serração onde a madeira entrava em bruto e era cortada em pranchas, passando depois para outra secção onde essas pranchas eram cortadas de novo em paletes mais pequenas,
As paletes seguiam depois para duas estufas onde seguiam um processo de secagem da madeira, passando de imediato às secções de corte mais pequeno onde eram cortadas na medida do produto final, parqué e taco, de seguida passavam para a secção de escolha e embalagem, onde as mulheres com as suas mãos sensíveis escolhiam o parqué e taco de melhor qualidade, e depois era embalado em caixas de papelão para ser transportado para os armazéns que havia em Lisboa e no Porto, e daí para ser vendido para vários destinos.
Tinha mais secções tais como oficina de serralharia, escritórios, refeitório e balneários, e tinha também uma moradia ao lado da fábrica com rés-do-chão e primeiro andar, onde os administradores ficavam instalados quando vinham á fábrica.
Esta fábrica teve vários administradores mas o mais que se destacou foi um chamado Sr. Araújo, que era muito amigo dos operários e que gostava muito de desporto já que foi um dos fundadores e mentores da Associação Desportiva IFAL Comenda, formando uma equipa de sonho nos anos setenta vindo a ganhar o campeonato distrital de Portalegre.
Durante cerca de 12 anos o produto da fábrica (o parqué e o taco) tinha muita procura e venda, e assim a unidade fabril ia de vento em popa, recrutando inclusive mais pessoas para trabalhar, a vida na fábrica decorria com entusiasmo faziam-se todos os anos pelo Natal uma festa nas instalações da fábrica onde os operários mais criativos homens e mulheres deliciavam os administradores e os outros operários e respectivas famílias, com peças de teatro encenadas por eles mesmo, e no fim era distribuído pelos administradores prendas para todos os filhos dos operários.
Após alguns anos de funcionamento e derivado á escassez de madeira de azinho devido a regras de corte de árvores implementadas pelos serviços florestais depois do 25 de Abril, começa-se a trabalhar também com madeira de sobre e de Freixo.
Logo após o 25 de Abril, por volta de 1975 começa a decadência desta unidade fabril, devido a diversos factores, erros de gestão, problemas laborais, queda da facturação etc, as receitas começam a cair e as dividas começam a aumentar, a matéria produzida na fábrica ( Parqué e tacos), devido a começar a aparecer outros produtos no mercado para pavimentação, mais baratos este produto deixa de ter muita procura, e os problemas agudizam-se, começa a haver salários em atraso, e alguns operários são obrigados a sair á procura de trabalho para sustentar a família.
Começa acumular-se as dívidas às finanças, á Segurança Social e também aos fornecedores.
Por volta de 1981 alguns operários resistentes juntamente com o administrador Sr. Araújo, tentam de novo reanimar a fábrica, começa-se a trabalhar com uma madeira que era importada para tentar apresentar um produto com mais qualidade, mas essa madeira como era importada do estrangeiro ficava caríssima, e com os problemas cada vez mais complicados existentes na fábrica, esta tentativa foi infrutífera e a fábrica acabou por fechar em 1982.
As finanças como tinham a maior divida tomaram conta da fábrica, e os operários que ficaram até ao fim levaram aquilo que puderam, lenha, parqué, ferramentas, etc, para tentar minimizar aquilo a tinham direito que era os seus ordenados em atraso, mas nunca mais receberam nada.
As instalações mais tarde foram postas em hasta pública e vieram a ser compradas na altura por um empreiteiro do Gavião chamado Armando Galinha que tinha negócios naquele tempo em várias áreas.
E é este empreiteiro que por volta de 1985, requalifica as instalações da IFAL e põe a funcionar nestas uma pequena firma de manequins, em sociedade com outra pessoa, e com cerca de 20 funcionários.
Mas como o destino parece que já estava traçado, esta firma só chegou a laborar cerca de 10anos vindo a ir á falência por volta de 1995.
Depois da falência e da dissolução da sociedade que tinha o Sr., Armando Galinha levou algumas máquinas que se aproveitavam para o Gavião e o resto vendeu tudo o que se aproveitava em ferro e chapa dentro das instalações da IFAL para a sucata, ficando apenas as paredes em ruínas da antiga fábrica, e algumas carcaças de máquinas enferrujadas.
Agora já nos anos 2000 a Câmara Municipal de Gavião faz um acordo com o Sr. Armando Galinha e adquire as instalações da Antiga IFAL, para ser inserida no plano da zona industrial de Comenda, que neste momento já foi aprovado e publicado em Diário da Republica.
E assim termina a história da maior e única unidade fabril que existiu na Comenda, dizer ainda que ao longo dos anos que a fábrica laborou há a lamentar 2 mortes de dois filhos da terra, ocorridas em acidente de trabalho, e que para sempre ficarão na memória de quem lá trabalhou.
A IFAL foi um marco histórico nesta terra já que marcou muitas famílias, muitos que trabalharam nela aqueles anos todos ainda hoje recordam com saudade os bons anos no auge da fábrica, muitas delas era o marido e a mulher os dois juntos na fábrica, o que dava naquele tempo, apesar dos vencimentos serem baixos um bom rendimento per capita na nossa terra, e ao mesmo tempo um grande desenvolvimento para a região, exemplo disso foi como já disse a fundação da Associação Desportiva IFAL Comenda, que ainda hoje está de pedra e cal, apesar de ao longo dos tempos ter tido alguns percalços, e presentemente é a Associação com mais sócios no Concelho de Gavião.
A nossa terra e a nossa região carecem de unidades fabris para combater o maldito desemprego que teima a aumentar e também combater a interioridade que padecemos neste Alentejo profundo, com a publicação em Diário da Republica da nova zona industrial de Comenda, aprovada pela Câmara Municipal de Gavião na pessoa do seu presidente o Prof. Jorge Martins, quem sabe não haverá algum investidor que queira vir investir na nossa terra nos anos mais próximos, fica o pedido e o desafio a nossa terra é uma terra de gente trabalhadora e bem receber.

Clicar na seta do play para ver as fotos e ouvir a música(O fado da Saudade)

8 comentários:

  1. Quase que perfeito o registo, o apontamento fotográfico de uma arqueologia industrial, o registo histórico da sua personalidade sociológica e vivência dos seus colaboradoes, discordando eu nalguns pontos, estas coisas modernas da gestão empresarial, a vossa terra foi mais uma vez pioneira, pioneira em gestão empresarial e seus métodos e formas estratégicas, que deste que a vossa IFAL fechou, fechou ao fim de tantos anos, me parece que os empresários deste País, do meu País, parece que ainda não conseguiram aprender nada...

    O´LUIS

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  2. Que para lá do azinho, do sobre, do freio, o pinheiro, o pinheiro também era companheiro, uma perninha também fazia, convidado era também a entrar no aparelho circulatório e podutivo da personalidade jurídica em questão.....

    O´LUIS

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  3. Se a fábrica demorou cerca de dois a construir, reza a crónica na vossa tradição oral, no princípio, no princípio era o verbo, dois turnos havia, que não parava, a laborar e a funcionar em espaço seu...

    Funcionários, o elemento que também dava forma ao produto, que chegou a funcionar com cerca de 73, número esse me parece pequeno, o sempre amigo e estimado jornal " COMENDA ", nesses anos, ele me falava, eu li, falava em 125 trabalhadores...

    Esse tempo, também parece o que se leva desta vida, recordações, a hora do almoço cidade parecia, era uma volocidade pedante e estonteante, vossa RUA GRANDE, o sinaleiro e o polícia parece que não existia, ele não podia, ele não conseguia, a ordem e a disciplina...

    E a ribeira do rio Sôr, aquela ribanceira, aquela barreira, parece que dantes, as camionetas, parece de eram de boa fibra e constituição potente, para a subir, um martírio era, era preciso uma paciência, que motoristas me parece que a tinha...

    Era preciso muita calma, que com jeitinho tudo vai, no alto, lá no quando se olha a imensidão dessa terra, vossas gentes, ao pé desse caminho que vai para o lagar, aí, nesse alto, elas, as camionetas, aí parece que a estrada ficava afundada, se abatia...

    O´LUIS

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  4. ...que é levado a crer, a dar mostra e sinal, memória esta vossa e lembrança disto indo aprimorar e rebuscar, foram os alemães, que foram os germânicos, os técnicos, as máquinas lá colocaram, e ela, a vossa muito querida IFAL, ela, ela lá comecou a funcionar, ter vida...

    O´LUIS

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  5. " A história real da primeira unidade fabril que existiu na nossa terra ", em vossa terra, me permiti, o direito de discordar, a exclamação e o ponto final eu muito queria, validar eu não posso...

    Que antes, antes da " primeira unidade fabril ", esse lugar, antes da dita IFAL, campo de futebol era, campo de futebol tinha, era o terreno onde a bola se chutava, que não sei, não sei se o Padre Farinha, nesse lugar, não sei se não dizia, " chuta a bola Moreno "...

    Sem tirar o poder, a intenção não é essa, sem tirar o poder, essa força de um gigante que em vossas terras pulsava, a IFAL, dizer, " a primeira unidade fabril na vossa terra ", aniquilar é, é desprezar a Enciclopédia Verbo da Cultura, a palavra COMENDA foca " (...), tinha fábricas de cortiça e indústrias de fanifícios "...

    Caminho esse eu não sigo e que também não vou por essa estrada, embora a mesma me deixe ao fim de tantos anos uma amizade muito saliente e muita confiança, no tocante a vossa(s) unidade(s) fabril(s), quero, desejo apenas salientar, salientar o telheiro, o telheiro no pinhal, o que se passou por lá e o que significou para vossa aldeia, não esqueço, não posso esquecer a Ferraria do Ti Antero, ou, ou Matos Rosa, o que se avista do monte e respectivo vale, que no vale é só bocados de ferro forjado, não seria estes elementos, não estou falando em teares, lagares de azeite, não seria estes elementos o princípio da " primeira unidade fabril ", na vossa terra, em terras vossas...

    O´LUIS

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  6. ...foi mais que dimensões extensas e mais que desenvolvidas, lá no fim do vosso mundo e esse vosso corpo, foi intenso, foi tão intensa a actividade, foi uma actividade que introduziu a reputação, o dito engenhoso de empregabilidade, é uma palavra que agora parece que é fresca e sucedeu à pouco tempo, um cromossoma e gene que forma a globalização, é uma terra que continua a olhar para dentro de si própria, foi um país que só olhava para dentro de si próprio, o Lennon, " imagina o mundo sem fronteiras ", seu pecado mortal e final, o da dita IFAL, que tudo muda, o que não muda é a mudança, o fim da sua vida, na minha opinião, o termo da sua existência, o juízo que eu formo, a minha crença, o seu mal, o da dita IFAL, foi ela não variar e diversificar o seu produto, que para lá dos " tacos de madeira ", era a menina bonita dos seus olhos, a dita, parece que também produzia carvão, os seus dois fornos, como se entenda agora o fabrico de carvão, muitos anos antecedeu agora como ele é produzido, também fabricava caixas para tomate, o que não lhe chegou para evitar uma facada nas costas...

    O´LUIS

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  7. ...estas coisas de gestão moderna, o que agora se inventa e o nome que se dá aos termos, me parece que as empresas agora criam empregos indirectos e colaboradores externos, deixai-me rir, deixai-me ficar, ficar contente e feliz por vós, a vossa IFAL, estamos a falar do interior, parece que era lá no fim do mundo, o campo, que o Caldeira Coelho, o Dr., me parece que era embaixador, sua visão empresarial, que isto de IFAL muita coisa tem que se lhe diga, muitos anos atrás, ele, a sua empresa, olhando eu para o presente da vida da vossa terra, para o mundo, ele, não era, não era só quem lá trabalhava que ganhava a vida, ganhava a vida e o pão para a boca, que ele também dava trabalho a quem estava em sua casa, em sua casa também escolhia tacos e no Natal também era convidado(a) para a referida festa que lá se fazia...

    O´LUIS

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  8. Nos tempos actuais, no presente, deve-se construir, construir uma " rede de relacionamentos ", estas coisas, palavras novas que agora se vai inventando, me parece que é copiada do Inglês, a materna e a universal a continuar a ser pronunciada e falada, me estão dizendo que a segunda a ser aprendida é o Espanhol, e eu, eu a julgar que era o Chinês, o Mandarim...

    " Rede de Relacionamentos ", assim começava este meu apontamento, me parece que " Rede " significa " Net ", que " trabalhando ", me parece que significa " Working ", e tudo junto se funde em " Networking ".

    A palavra " Networking " parece que significa no meu entendimento em forma resumida, em forma resumida significa que quanto maior for a rede de contactos de uma pessoa, ela tem uma maior possibilidade de conseguir uma boa colocação profissional, neste caso foi Vs empresarial.

    Quero salientar, nesse espaço de mais de três mil metros quadrados, a vossa IFAL, um continente em terras vossas, " diz-se que veio para a Comenda por influência do Dr. Jorge Bastos ", que o dito senhor, o do Vale do Grou, no séc. passado, eu não sei o que a baiana tem, foi pioneiro, foi autor, na minha ignorância em vossa estima, foi pai de uma terminologia " Networking " e o Inglês, que viu o navio partir, isso viu...

    O´LUIS

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