segunda-feira, 6 de julho de 2009
E A PONTE NÃO CAIU...
É do jornal paroquial «Comenda» (que o publicou em 04/12/1988 e que, por isso, nos cumpre citar aqui, com a devida vénia) que transcrevemos o interessantíssimo texto intitulado «E A PONTE NÃO CAIU...». Também solicitámos, naturalmente, a respectiva autorização de inserção neste blog ao nosso conterrâneo senhor António Martinho, seu autor. Ao qual daqui enviamos os nossos melhores cumprimentos e o nosso obrigado.
Durante longos anos, o povo da freguesia da Comenda sonhou com a construção de uma ponte sobre o rio Sôr que facilitasse o acesso à estação da Cunheira. A velha ponte mourisca ou do Sourinho, como era conhecida, com o seu acesso norte em passadeiras, encontrava-se em ruínas e não permitia atravessar o rio mesmo com águas médias.
Era realmente urgente construir uma ponte que permitisse passagem segura a peões e viaturas. Essa necessidade tornou-se mais notória a partir dos anos vinte, quando a indústria corticeira se expandiu em todo o país.
Nessa época era feitor da casa Henry Buckall & Sons (Polvorosas) o senhor João Lopes, que nesses anos fez parte da Edilidade Camarária como vereador. Sem dúvida alguma, a ele se deve o arranque desta obra que atrás referi. No entanto, não devemos esquecer que a casa que representava tinha grande interesse nessa construção.
A reunião da Câmara aprova a construção da ponte, mas era necessário encontrar alguém que se responsabilizasse pela sua construção ou a aceitasse de empreitada.
Na altura da inauguração em 1930, tinha eu sete anos de idade e ainda recordo algumas coisas. Para construir essa grande obra não foi necessário contactar empresas de fundações, não foi necessário engenheiro ou arquitecto para elaborar a planta e fazer cálculos. Tudo isso fez o nosso mestre José Alves, assim era conhecido.
A ponte mede aproximadamente 96 metros de comprimento, 5 de largura e 9,5 de altura, com dois arcos de 7 metros cada em pedras facetadas de granito perfeitamente ajustadas. Merece pois o nosso respeito e admiração.
Não consegui encontrar na Junta de Freguesia elementos que me permitissem saber o ano exacto do início da construção. Apenas se sabe que o peditório público se realizou em 1928 e em 1930 foi inaugurada.
Porém, profetas da desgraça, vaticinaram a sua derrocada para as próximas grandes cheias. Nos primeiros dias de 1931, sucedeu uma dessas. Toda a noite de Domingo para Segunda-feira choveu copiosamente, ninguém pôde sair para o trabalho porque a chuva não parava de cair. Alguns mais curiosos foram apreciar o panorama e depressa chegaram as notícias : «os arcos da ponte estão quase cobertos»; outros diziam que o barulho da água metia medo; outros ainda que a ponte tremia, etc.
Mestre José Alves encontrava-se à porta da taberna do seu vizinho José Chamiço e deve ter sentido um calafrio, mas para se acalmar mandou encher uns copos de vinho e disse em voz firme : «a ponte está bem construída e não vai cair». E não caiu. José Alves Pires da Silva, seu nome completo, era na verdade um grande mestre.
A ponte não caiu, como afirmou o mestre, passados 58 anos carece de uma pequena reparação.
António Martinho Margarido,
in «Comenda», número 192,
de 4 de Dezembro de 1988
Manuel Monteiro da Silva
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