sábado, 25 de abril de 2009

AURORA BOREAL


Mais uma recordação de outrora.


COMENDA, ANOS 30 DO SÉCULO PASSADO : OS MISTÉRIOS E OS MEDOS DA AURORA BOREAL

Já tive a ocasião de colocar aqui, no blogue «Castelo Cernado», um texto sobre o insólito sobrevoo da nossa terra pelo famoso dirigível «Graf Zeppelin». Acontecimento que teve lugar por volta de 1935/1936. Confiando, mais uma vez, nas recordações de minha mãe -uma jovem com quase 87 anos de vida- venho agora falar-vos do dia (ou melhor, da noite) em que a população da Comenda pôde observar –com o alvoroço que se imagina- uma aurora boreal.

Segundo a minha progenitora, tal facto terá acontecido pela mesma época em que ela viu, naturalmente espantada, o voo majestoso do dirigível alemão; ou talvez um pouco mais tarde, lá para finais da década dos 30.

A aurora boreal é um fenómeno natural, de grande espectacularidade visual, observado com uma certa frequência nas regiões próximas do Pólo Norte, mas muito raro noutras latitudes. O mesmo fenómeno ocorre nas regiões polares do sul. Só que aí se lhe dá, como é óbvio, o nome de aurora austral.

Tal fenómeno (só visível de noite) consiste no aparecimento de uma cortina de luz de grande intensidade, semelhante à luminosidade provocada pelo Sol nascente. A gama de cores da aurora boreal é muito variada e pode ir do vermelho ao verde, passando pelo amarelo e por tons esbranquiçados. Esta mancha de cores pode ser raiada ou ondulada. Ou apresentar, até, faixas radiais em volta de um ponto determinado. A aparição deste fenómeno é, quase sempre, acompanhada por forte perturbação do campo geomagnético.

Segundo os cientistas, as auroras boreais formam-se, na sua grande maioria, na ionosfera. E acontecem, segundo eles pensam, quando electrões e protões incidem –aquando de explosões solares- nos átomos de oxigénio e de azoto da alta atmosfera terrestre e os excitam, com a consequente emissão de luz. Confessam ainda os sábios (com uma humildade louvável) que muitos aspectos deste fenómeno lhes são, porém, desconhecidos.

Foi pois esta coisa estranha que foi dada ver à população da Comenda há já uns 70 anos. Escusado será dizer que a impressionante visão de fenómeno celeste tão raro apavorou as pessoas da Comenda, mas também os povos das aldeias, vilas e de algumas cidades deste país, que tiveram a oportunidade de o observar. Segundo a minha mãe, que gosta muito de me falar do Castelo e dos comendenses de tempos idos, as pessoas da nossa terra ficaram tão assustadas que, na noite da aurora boreal, não se deitaram e se passearam pelas ruas da aldeia muito preocupadas, comentando o acontecimento. Tanto mais, que alguns sabichões do burgo puseram a circular o boato de que aquilo que se estava a observar era o prenúncio do fim do mundo.

Não sei se, nessa noite, alguém da terra com mais cultura (um professor ou um médico, por exemplo) pôde elucidar o mistério e tranquilizar algumas pessoas. Sei é que o meu avô paterno (assinante do jornal «O Século») leu no dia seguinte, após a entrega desse matutino, a explicação do fenómeno e pôde, assim, sossegar a família e os vizinhos.



Manuel Monteiro da Silva

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