sábado, 18 de abril de 2009
Histórias Reais de Antigamente
Hoje vamos contar uma história antiga baseada em factos reais, que aconteceu na Comenda de outrora.
QUANDO O ZEPPELIN SOBREVOOU A COMENDA
Da minha mãe, que já vai a caminho dos 87 anos de idade, e de uma sua irmã, agora com 84 primaveras, ambas comendenses, ouvi eu várias vezes o relato de algo que muito as impressionou na sua meninice : a narração do sobrevoo de Castelo Cernado por um gigantesco dirigível alemão construído pela firma do conde Zeppelin. Esse acontecimento foi observado pelas supracitadas anciãs (e concerteza por muitas outras pessoas da Comenda ainda vivas) do quintal da moradia familiar, situada na Rua do Monte Novo. E teve lugar, muito provavelmente, em 1935 ou 1936, já que minha progenitora, nascida em 1923, afirma que andaria então pelos 12 ou 13 anitos.
Cronologicamente a coisa bate certo, já que o apogeu dos dirigíveis coincide com esse período da História. Concorda no tempo com essa época particularmente sombria para a Europa, visto Adolf Hitler ter acedido -em 1933- ao poder na Alemanha e representar já, inquestionavelmente, um perigo letal para as nações e para os povos do chamado Velho Mundo.
Por essa altura, a firma Luftschiffbau Zeppelin Gmbh, pioneira nas áreas da concepção, construção e venda de dirigíveis de estrutura rígida, já havia acumulado êxitos com a exploração comercial (pela transportadora DELAG) dos seus fenomenais charutos voadores. Um desses engenhos, o famoso LZ-127 «Graf Zeppelin», efectuara em 1929 uma triunfal volta ao Mundo e passara a cruzar regularmente o Atlântico com uma clientela endinheirada e ávida de emoções fortes. Este dirigível (que media cerca de 237 m de comprimento e podia conter, no seu bojo, qualquer coisa como 110 000 m3 de hidrogénio) ligou Friedrichshafen (Alemanha) a Lakehurst (perto de Nova Iorque) e depois ao Brasil. Durante os seus 9 anos de vida operacional, o «Graf» percorreu 1 700 000 km em 17 200 horas, transportando mais de 13 000 passageiros. E tudo isto sem problemas realmente dignos de menção.
Em 1936, um dirigível de ainda maiores dimensões, o LZ-130 «Hindenburg» (com 245 m de longitude, um total de 42 toneladas, 190 000 m3 de gás, cerca de 70 passageiros) foi colocado na rota da América do norte pela sucessora da DELAG, a companhia D.Z.R.. Apesar da sua grandeza e do seu luxo foi este autêntico paquete do ar quem ditou o fim da navegação aerostática dirigida. Já que, no fatídico dia 6 de Maio de 1937, o «Hindenburg» sofreu um acidente medonho à sua chegada aos Estados Unidos. Por uma razão, jamais elucidada, um incêndio declarou-se a bordo do LZ-130, envolvendo-o em chamas. Devido ao facto do mastodôntico dirigível se encontrar já perto do solo, só morreram 12 passageiros e 19 membros de equipagem, entre os quais o capitão Ernst Lehmann. Mas isso foi suficiente para considerar perigosos os engenhos utilizando como fluido de sustentação o hidrogénio, um gás extremamente inflamável.
Mas voltemos à vaca fria, quer dizer ao tal charuto prateado que, inesperadamente, sobrevoou a Comenda em data indeterminada de meados da década dos 30. Considerando as informações disponíveis, é muito provável que se tivesse tratado do LZ-127 «Graf Zeppelin». Isto porque, nessa altura, já essa aeronave se encontrar afectada à linha da América do sul, cuja rota a fazia sobrevoar a península Ibérica; contrariamente ao «Hindenburg» que, nas suas viagens para os states, utilizava uma trajectória mais setentrional.
Foi no fim desse memorável e incerto dia que o enorme aeróstato pairou sobre a nossa aldeia ou que, pelo menos, a sobrevoou a velocidade muito reduzida. Voava a uma altura relativamente baixa para parecer, a quem o viu da Comenda velha, ser «do tamanho de um camião». A minha mãe e a minha tia (que já citei) foram alertadas da sua presença sobre a nossa terra pelo ronronar dos seus motores, que então se ouviram nitidamente. O que não é de admirar, caso se confirme a baixa altura a que se deslocava o insólito charuto voador. É que o «Graf Zeppelin» era movido por cinco poderosos motores diesel Maybach (bastante ruidosos), de 2 650 cavalos de potência global. O dirigível terá abandonado o espaço aéreo da freguesia na direcção do sudoeste, facto que favoriza a tese do «Graf Zeppelin» na sua rota brasileira em desfavor de outra qualquer hipótese. Inútil será dizer, que a visita inesperada do Conde Zeppelin foi conversa obrigatória dos comendenses durante muito tempo. Até que a recordação deste insólito acontecimento se esvaneceu com o tempo, que tudo teima em apagar.
O autor destas linhas agradece antecipadamente a todas as pessoas que possam ter recolhido testemunhos sobre este assunto, o favor de enviar essa informação para o blog Castelo Cernado.
Manuel Monteiro Silva
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muito interessante
ResponderExcluirIncrível!
ResponderExcluirDesconhecia por completo tal importante acontecimento, com lugar (ainda que aéreo) na nossa pequenina terra. :)
Quem me dera que as minhas avós ainda fossem vivas!
Eram grandes contadoras de histórias mas, provavelmente, esqueceram-se de me relatar este facto.
Parabéns pelo blogue!
É bom para matar saudades quando demoro para voltar aí.
Sandy