segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os Casamentos de Antigamente





Começamos a semana com mais uma tradição perdida.



A CORRIDA DO BOLO - MOMENTO ENTUSIÁSTICO NAS ANTIGAS FESTAS MATRIMONIAIS DA NOSSA TERRA

A corrida do bolo era um dos pontos altos das festas de casamento outrora realizadas em Castelo Cernado. Tradição bonita e divertida, mas que, como tantas outras, só perdura, hoje, na memória dos comendenses que têm mais de 50 anos de idade.

Quero referir (sem entrar em detalhes sobre o casório propriamente dito, até porque isso pode constituir tema para uma outra crónica) que os casamentos eram –até finais dos anos 50- bem diferentes dos actuais. As pessoas deslocavam-se a pé da casa dos noivos para a igreja, onde iria decorrer o ritual religioso, e, depois dessa cerimónia, iam também a pé da igreja para o local onde seria servida a primeira refeição de um ciclo festivo, que podia durar dois ou três dias.

Era, pois, no decorrer de um desses percursos pedestres –o de regresso da igreja, onde se havia celebrado a boda- que se procedia à corrida do bolo. Ou melhor, às corridas do bolo, visto essa prova de velocidade estar aberta a todos aqueles que manifestassem a vontade de nela participar. Bastando para tanto terem um adversário que lhes aceitasse o repto.

Nessa ocasião, o cortejo abria alas, formando duas longas filas de convidados, deixando entre estes um espaço suficientemente largo para que os corredores se não sentissem estorvados nos seus movimentos. Ao fundo, diríamos na meta, colocava-se uma senhora ou uma menina (escolhida entre as convidadas) que exibia uma bandeja com o prémio em disputa, que era, invariavelmente, um apetitoso bolo de massa, guloseima tradicional das nossas festas de casamento. E dava-se então início à corrida, na qual se afrontavam apenas dois homens. Embora se tenha visto, por vezes, disputas entre duas senhoras, já que nada se opunha à sua participação no certame.

Ao sinal de partida , os dois participantes arrancavam a toda a velocidade que o físico lhes consentia, na ânsia de atingir a meta -e o almejado bolo- antes do adversário do momento. Que era, geralmente, um amigo ou até um familiar. Era uso que, no final da disputa, o vencedor manifestasse o seu fair play e dividisse o tal bolo de massa com o participante derrotado. Estas corridas desenrolavam-se no meio de generalizada gritaria e de muitos dixotes, para entusiasmar ou espicaçar a malta. Aconteciam, por vezes quedas aparatosas, que em vez de indisporem os actores das ditas, vinham, pelo contrário, animar ainda mais a festa e aumentar a algazarra.

Depois destes momentos de grande agitação, os noivos colocavam-se, de novo, à frente do cortejo, seguidos dos respectivos padrinhos e demais convidados, e lá seguiam para o almoço. Para irem tratar da saúde (passe a expressão) às sopas de sarapatel, ao arroz de maranhos, ao borrego guizado, ao arroz doce, que eram pitéus certos e apetecidos nas bodas daquele tempo. E estou a falar, daquelas festas de casamento que se realizaram até finais dos anos 50, inícios da década seguinte.

Hoje tudo isso acabou. Agora privilegiam-se festas mais snobs, mais chiques (será que o são ?), com banquetes pomposos servidos em restaurantes da moda, gastando-se verdadeiras fortunas em festas que, por vezes e infelizmente, até celebram casamentos efémeros. Enfim, ocorre-me todo este palavreado para vos dizer que tenho saudades dos casamentos de outrora, com corridas do bolo, com sopas de sarapatel e com casais que se amavam, que se respeitavam, que cooperavam e que... ainda duram.


Manuel Monteiro Silva

5 comentários:

  1. Quero acrescentar que naquele tempo os casamentos eram na igreja que está no Vale do Grou porque ainda não havia igreja aqui na Comenda, então as pessoas iam a pé e vinham era nesse trajecto que faziam a corrida ao bolo, segundo os mais velhos.

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  2. Em " Os Casamentos de Antigamente " o amigo Manuel Monteiro Silva, nos diz " As pessoas deslocavam-se a pé da casa dos noivos para a igreja ".

    A sua informação está correcta se é baseada numa comparação com o acto matrimonial que é consumado no presente e sociedade moderna existente na vossa aldeia.

    Olhando para o vosso passado e os tempos que lá vão, a minha memória e registo me informa e julgo que está sendo verdadeira para comigo, que primeiro eram os convidados da noiva a irem buscar o noivo e os seus convidas.
    Chegados ao ponto de partida, junto à casa da noiva, numa prosa e alguns dedos de conversa, se fazia uma espécie de círculo e se esperava que a "menina", a noiva, de sua casa para a rua ela viesse.
    Na rua, o cortejo se organizava e se formava.

    Penso que ela estava e ia na frente e atrás o noivo tudo observava. Eram ambos acompanhados pelos seus padrinhos, assim julgo a etiqueta e o tratado de civilidade existente na altura.

    Pela rua o cortejo circulava e grupos de mulheres a julgava. Os homens, nesses se ouvia, era a frase mais repetida "lá se vai mais um enforcar".

    Eram outros tempos, a vida essa fervilhava e se sabia que se renovava, que alguém se casava.

    O´LUIS

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  3. O modesto texto que eu intitulei «A corrida do bolo - momento entusiástico nas antigas festas matrimoniais da nossa terra» não pretende ser algo de definitivo sobre o assunto, longe disso; mas apenas uma evocação das minhas próprias memórias, que devido à minha idade (quase 64 anos) já não me transportam ao tempo em que os casórios se faziam na igreja do Vale do Grou. Penso, porém, que todos os detalhes aqui trazidos por outros comendeses (e não só) só podem enriquecer o nosso conhecimento sobre um passado comum. (mms).

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  4. Mas meu amigo " mms ", o que eu escrevi sobre o tema, para mim, (também) " não pretende ser algo de definitivo sobre o assunto, longe disso " eu espero voltar, voltar ao que deixei pendente e não acabado.

    E continua o meu amigo " penso, porém, que todos os detalhos aqui trazidos por outros comendenses (e não só) só podem enriquecer o nosso conhecimento sobre um passado comum " mas a jogada é essa, o que toca esta minha modesta participação, e, acrescentando a olhar e a sentir, os números que aí estão a chegar em 2011, os censos do INE.

    Que " A corrida do bolo - momento entusiástico nas antigas festas matrimoniais da nossa terra ", o sr., o amigo, sem se aperceber (assim o julgo), abre o tema "Jogos Tradicionais", um património tão rico, tão rico nessa terra e que se vai perder se não se fizer nada...

    O´LUIS

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  5. A primeira refeição era pela manhã, na casa do noivo ou da noiva, consoante o convite, o começo do dia era ir beber o café.
    Era duas ou três pessoas, quatro, conjuntamente o que a amizade as ligava e havia entre si, iam chegando, depois do café tomado saiam e outros e outras chegavam e iam chegando e depois saiam.

    Eram casas humildes, as casas dos pais noivos, naquele tempo, de gente humilde, tudo fazia e a tudo se obrigava para ser um grande dia.

    As pessoas deslocavam-se a pé da casa da noiva, que primeiro era os convidados da noiva a irem buscar o noivo e os seus convidas.

    Não sei se eram, (este pequeno texto fica incompleto e aqui termino) é uma viagem cerebral que estou a tentar fazer, que recordando aquele tempo me não lembro, se os padrinhos da noiva faziam parte da expressão " vamos lá buscar o noivo ", os pais eu descarto que não, pareço que sinto que a madrinha junto da noiva ficava e um último conselho lhe dava.

    Ela ia na frente e comandava. Era a rainha. Era a rainha naquele dia...

    No trajecto, o espaço que vai da sua casa até à igreja, grupos de mulheres, no trajecto, no trajecto aguardavam, aguardavam e por ela se esperava.

    Que olhando e ela passando, a memória esta minha regista, elas, as mulheres, as mulheres naquele tempo a falar sobre a sua beleza, que aspecto apresentava, o estado dela, da noiva, o estado da sua alma, o que ele revelava, triste ou contente...

    No trajecto, o caminho que se fazia, talvez a meio, os sinos da igreja tocavam, tocavam e eles tocavam sem um querer parar.

    Depois de a cerimónia acabar, a papelada burocrática se tratar, na sacristia, na entrada a festa continuava, as madrinhas, as duas, que não sei se os noivos, os noivos no meio delas se encontravam, elas, as madrinhas, a mão no saco colocavam e para o chão lançavam, para as crianças e adultos apanhar, uma briga se fazia ao apanhar, no apanhar rebuçados, amendoins e amêndoas.
    A memória esta minha me diz, era junto, aquelas escadinhas de pedra, no patamar, à porta da entrada ligava o templo.

    O cortejo depois lá seguia, não sei se para o almoço, que primeiro não sei se não se almoçava ou para a festa onde o bolo de(a) noiva se cortava e provava.

    No almoço e no jantar, eram vários os que se levantavam, e o tinto e o branco, no copo na mão se brindava, ao alto se levantava, quadras se faziam e saiam, aos noivos, à noiva, ao noivo, aos pais e à cozinheira, que quadras se declamava, poetas desse povo, gente vossa, naquela altura discursavam e felicitações lançavam.

    Eram outros tempos, a vida essa fervilhava e se sabia que renovava, que alguém casava... e mesmo os que não eram convidados, os vizinhos de longe e os de perto, naquele tempo, um prato com bolos e um pecadinho do de noiva a sua casa chegava.

    É esta mística povo vosso, é esta mística, que se um dia compreenderes os laços que vos unia e ligava...

    O´Luis

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