terça-feira, 14 de abril de 2009

Comenda sua História eTradições







Vamos iniciar hoje uma serie de posts sobre a história e tradições da nossa terra, algumas já perdidas, da autoria do nosso colaborador e amigo Manuel Silva.
Começamos pelo historial:




COMENDA" NOSSA TERRA

Castelo Cernado, sede da freguesia de Comenda, é uma aldeia do Alto Alentejo integrada no concelho de Gavião, vila da qual dista cerca de 17 km. A igual distância da nossa terra se situa Nisa e Crato, vilas com as quais os comendenses também partilham alguns aspectos do seu passado histórico e certos dos seus usos e das suas tradições.

Rodeada por imensos montados e por vastos eucaliptais, a Comenda e os comendenses viveram muito tempo da exploração dessas riquezas florestais, tendo os seus filhos consagrado durante décadas o essencial do seu saber da sua actividade profissional às tiradas de cortiça e ao fabrico de carvão vegetal. Além de também terem ganho o seu sustento no amanho de hortas familiares, que, graças à reconhecida riqueza das nossas reservas aquíferas, aqui produzem de tudo um pouco: frutos, principalmente citrinos, feijão, olival, milho, vegetais e legumes de toda a espécie.

Com o decorrer dos tempos mudaram os hábitos dos comendenses. E, por ter falhado, em tempo próprio, a implantação de unidades fabris susceptíveis de fixar a população ao seu torrão natal, a nossa aldeia como tantas localidades do vasto e esquecido Alentejo regrediu e foi sendo abandonado por muita da sua gente, em proveito de Lisboa e de outras cidades e vilas da rica cintura industrial da capital portuguesa.

Mas a gente do Castelo, do Vale da Feiteira, da Ferraria e de outros lugares da freguesia de Comenda como Vale de Junco ou Vale de São João raramente esquece a abençoada terra que a viu nascer. E, em ocasiões especiais que marcam a vida das pessoas, cá estão esses nossos conterrâneos de volta ao berço, para festejar o Ano Novo, celebrar a Páscoa, passar as férias grandes, assistir à festa anual votada ao culto de Nossa Senhora das Necessidades ou passar o Natal na paz que lhes proporciona o sossego da região e o aconchego da casinha familiar deixada em herança pelos pais. É também nessas ocasiões que os ausentes matam saudades dos sabores da sua infância, degustando os sápitos e tradicionais pratos da nossa região, tais como o sarapatel, a lebre com couves, as migas, as sopas de peixe do rio ou o arroz doce.

A freguesia de Comenda ocupa uma área geográfica que ronda os 90 km. O que significa que, para uma população que já não ultrapassa os 1.000 habitantes permanentes, não é o espaço que lhes falta. A charneca imensa e quase deserta que nos rodeia não constitui um meio hostil. Antes pelo contrário uma charneca em flor, como lhe chamou Horácio Nogueira, antigo e estimado pároco de Comenda, nos dois livros que consagrou à nossa terra. Na Primavera, quando florescem aos milhões as estevas, os tojos, as giestas e uma multitude de outras espécies da flora autóctone, a natureza empresta à campina formas, cores e odores tão agradáveis quanto inesperados. Sobretudo para aqueles que, habitualmente, só nos visitam durante o Estio e se maravilham perante a espantosa metamorfose operada, ciclicamente, por madre natura.

Uma infinidade de fontes e ribeiras de cristalinas águas, manifestam-se por essa mesma ocasião, ou ao longo do ano, espalhando a sua benfazeja frescura por toda a parte. Disso são exemplo a ribeira da Venda -que dispõe, agora de um aprazível e apetecível parque de lazer e a inesgotável fonte do Vale do Grou, que goza na freguesia, e não só, da justa reputação que lhe concedem as suas águas, consideradas das melhores de todo este rincão do norte alentejano. É também na Primavera que a passarada e aves de grande porte como a cegonha branca e várias espécies de garças por aqui nidificam. E, agora, nesta época de visível mutação climatérica, por cá se vão deixando ficar o ano inteiro, renunciando instintivamente à aventura da migração.

O povo da Comenda é de um natural simples e afável. É, em suma, gente representativa deste Alentejo profundo, que continua a fazer jus a valores como o trabalho, a hospitalidade e o amor à sua região. À região do Alentejo que aqui toma nome, já que o maior curso de água de toda a península Ibérica o rio Tejo corre a escassos quilómetros ao norte da nossa aldeia, servindo de fronteira natural entre o concelho de Gavião e a vizinha e amiga Beira Baixa.

Manuel Monteiro Silva

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