quinta-feira, 16 de abril de 2009

Fontes na Comenda

POTE EMPEDRADO DE NISA E CANTÂROS













FONTE VELHA














FONTE DO AZINHAL














FONTE DO VALE DE GROU














FONTE NOVA











hoje vamos falar de fontes antigas na Comenda,mais um trabalho do nosso Amigo Manuel Silva.



AS FONTES DE MERGULHO DA COMENDA

As fontes de mergulho são, como provavelmente toda a gente sabe, aqueles olhos de água que brotam naturalmente à superfície da terra e dos quais se recolhia o precioso líquido directamente –e por mergulho, daí o seu curioso nome- com a vasilha que o transportaria até casa : um cântaro, uma bilha, um caldeiro, etc. Essas fontes foram, num passado já longínquo, os únicos pontos de abastecimento de água a que tiveram acesso as gentes do Castelo e as populações de aldeias como a nossa.

Depois dessas nascentes, precariamente protegidas, apareceram as fontes de bicas, que, como é óbvio, constituíram um avanço gigantesco em termos de comodidade e de higiene para as populações rurais. A esse propósito, eu ainda me recordo (com a nostalgia própria daqueles que já entraram no inverno da vida) dos ranchos de raparigas e de mulheres da Comenda que se juntavam na chamada Fonte Nova com os seus potes e cântaros (geralmente de Nisa), prontos para serem atestados com água. As necessidades da vida quotidiana obrigavam muitas vezes essas mulheres a efectuar várias e árduas idas à fonte para abastecerem os seus lares. E foi assim até que, finalmente, apareceu a água canalizada, supremo luxo, que mudou radicalmente a vida quotidiana das pessoas da nossa terra e não só.

O autor destas modestas linhas -que vai nos seus 64 anos de vida- já é do tempo das fontes de bicas (a Fonte Nova foi inaugurada, como o atesta uma lápide lá colocada, no ano de 1915), mas ainda se recorda de certas fontes de mergulho, onde algumas pessoas do Castelo se abasteciam em água para uso corrente de suas casas. Isto nos anos 40 e 50 da passada centúria.

Lembro-me bem de algumas dessas fontes superficiais, que, por acaso, ainda hoje são visíveis e podem testemunhar da rude realidade de tempos idos. Convém frisar que, na época forte da sua utilização, os campos ainda não haviam recebido as doses maciças de adubos e pesticidas que, como todos sabemos, acabaram por envenenar os solos e contaminar as reservas freáticas, comprometendo (por muito tempo) a utilização segura das fontes às quais aqui fazemos alusão. Prosseguindo, diremos que uma dessas fontes, a chamada Fonte Velha, se situa em pleno campo, no prolongamento da rua que tomou o seu nome, a escassas dezenas de metros de distância do templo da comunidade adventista Uma outra fonte desse tipo, a do Azinhal, está localizada também a sul da nossa aldeia, na chamada rua da Poça, nas proximidades da ETAR da Comenda. Segundo informações que me foram transmitidas por conterrâneos mais velhos e mais conhecedores do assunto, existem várias outras fontes de mergulho perto da nossa aldeia. Como, por exemplo, a Fonte do Vale das Pedras, acessível pelo caminho das Quintas; como as duas fontes do Braçal (oferecendo uma delas águas ferraginosas) ; ou como as fontes (essas mais distantes) do Vale da Rabaça. Agora praticamente todas elas sem grande utilidade e votadas ao abandono.
O cachopo curioso que eu era nesses tempos, arrepiava-se de ver, amiúde, nessas fontes de mergulho salamandras, tritões e rãs, cuja presença nesses lugares ele achava, na sua santa ignorância, incompatível com a higiene, com a salubridade do líquido vital. É que ele ainda não sabia que esses batráquios (nada nojentos, apesar da sua rebarbativa aparência) ajudavam a purificar a água dessas preciosas nascentes, da qual eles eliminavam sistematicamente moscas, mosquitos e outros insectos, esses sim extremamente perigosos para a saúde pública.

Aqui fica, pois, o testemunho de alguém que gostaria que certos aspectos da vida quotidiana dos comendenses de outrora não ficassem mergulhados no esquecimento total, engendrado pelo nosso desinteresse e/ou pela nossa ignorância das coisas do passado. Aqui fica o testemunho de alguém que não gosta que certos aspectos da vida dos nossos pais e avós continuem enterrados numa espécie de olvido envergonhado que, finalmente, até nos descaracteriza enquanto pessoas e enquanto povo.

E já agora, deixem-me soltar um desabafo : tendo a Comenda tanta gente com canudos universitários, estou pasmado com o facto de nenhum desses seus filhos mais cultos ter ainda tido a ideia e a vontade de se lançar na escrita de um estudo monográfico sério sobre a sua terra ! –Como têm feito os filhos de praticamente todas aldeias aqui em redor. As populações de Alagoa e dos Fortios, por exemplo, acabam de ver, com muito orgulho, as monografias das suas terras editadas e divulgadas. Aqui fica, pois, lançado o desafio aos universitários comendenses...



Manuel Monteiro Silva

2 comentários:

  1. "São as palavras, e elas não deixam de ser, as de Manuel Monteiro Silva, elas são, é um acto de homenagem e um preito, a vossos antepassados, meus antepassados.
    Que o início da sua dissertação literária e registo, que a sua exposição municiosa e escrita, é um legado, ficará por ser uma dádiva aos mais novos e aos rebentos que hão-de vir em vosso povo e gente.

    Notável. Notável sua estreia, a estreia do referido autor, "fontes na Comenda". Maravilhosa sua intervenção, como que pedindo, "Vamos lá minha gente"...
    O seu texto, parece que quer dizer, asim o entendo, não deixa de ser uma responsabilidade de todos. É uma responsabilidade dos políticos, das associações culturais e desportivas, da sociedade civil, do individual sobre o colectivo (não esquece), não esquece os que estão fora, esses, ao que parecem, eles também têm uma certa quota de responsabilidade, na relação com o vosso meio e terra.

    Gostei. Não concordo com um ponto e um parágrafo. Não posso concordar e me é impossível eu estar em sintonia com o seu pensamento. Quando ele diz " ...a Fonte Nova foi inaugurada, como atesta uma lápide lá colocada, no ano de 1915" eu não posso estar em linha. Não posso dizer, que a referida fonte, a das bicas, não entrasse em funcionamento e serventia, no referido ano....
    O monumento, a construção fontanária, aquele corpo que continua a largar vida, a suas linhas que lhe dão existência como a conhecemos hoje, ela nasceu em 1935 ou em 1938. A minha preferência vai para a segunda.

    Se um dia, se um dia houver a coragem e ousadia, o comportamento de lá (re)colocar a data, a data que é sua por nascimento (eu acredito de quem de direito não teve culpa), retirar simplesmente o azul, eu estarei aqui para pedir desculpa se estiver errado...

    Agora, agora numa relação mais positiva com o trabalho do nosso referido amiigo, gostava de lançar alguns elementos para a valorização do seu trabalho.

    No meu entendimento, o aparecimento da água canalizada na vossa terra, ela vem a mudar a arquitectura das vossas casas. O pote, o cântaro, "geralmente de Nisa", e de Flor da Rosa também, acrescento eu, cheio de água, na cabeça das mulheres, deixa de ser um sacrifício e vem a libertar o ser feminino.
    O líquido, o precioso líquido, ele estando dentro de vossas casas, ele leva a uma destruição do "piel", onde assentavam os potes e a uma destruição das estantes cheias de pratos que assentavam sobre o referido elemento arquitectónico.
    Não deixa de ser e leva a outra consequência e efeito, uma tradição que morreu na noite de S.João. Ao que parece, na noite citada, era costume as raparigas daquele tempo, naquele tempo irem caiar a fonte e a enfeitarem com canas e junco no chão. Não posso dizer, não posso dizer se havia "bailarico", namorico havia .

    Luis Vieira

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  2. Que voltando ao ponte de partida, é um regresso a estas minhas vossas origens, que voltando não deixa de ser uma nova partida, que assunto pendente não será ainda consumado agora, apenas dizer por agora, a data já lá está, 1935, 1935 foi restaurada, que não errei por muito, a origem não consigo vislumbrar, que essa, 1935, essa se consegue ver muito mal...

    O´LUIS

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