terça-feira, 16 de junho de 2009

ALGUMAS LINHAS SOBRE A ROMÃNZEIRA E OS SEUS FRUTOS









Na Comenda, neste início de mês de Junho, depois de se ter esvaído naturalmente a floração cíclica de giestas, tojos e estevas que enfeitavam os nossos campos, começaram a despontar outras flores, igualmente belas e vistosas. A mais espectacular será, porventura, a das romãzeiras, plantas punicáceas abundantes na nossa terra, como em todas as outras regiões de clima mediterrânico.

As flores da romãzeira são grandes e de um escarlate vivo, que ressaltam do verde intenso que caracteriza as folhas oblongo-lanceoladas da pequena árvore. As romãzeiras da nossa aldeia estão actualmente em plena florescência (como já acima referi) e dão como que um ar festivo a todas as hortas e a todos os quintais do Castelo. Eu cá tenho uma, plantada há pouco mais de dois anos, que, apesar da sua pequenês e aparente fragilidade, está linda e carregada de flores. A minha romãzeira ofereceu-me o ano passado 8 frutos, mas promete-me, para o fins de 2009, muitos mais : uma boa vintena de suculentas romãs.


Saberá quem tem a curiosidade e a paciência de nos ler que este singular e saboroso fruto –tão mal aproveitado na nossa terra- chegou à península Ibérica no século VIII, trazido pelos conquistadores árabes ? –Pois é verdade. A romã, originária, ao que parece, da Ásia Menor (embora haja estudiosos que a digam nativa de outras exóticas paragens : Transcaucásia, Irão ou Turquestão), só a partir da imparável ofensiva de Tárique, o Conquistador, chegaria às úberas terras da Hispânia, onde veio encontrar (nas regiões de clima mediterrânico) um terreno propício à sua transplantação. Curiosamente, o fruto em questão tomou em Portugal (caso único na Europa ocidental) um nome derivado da língua árabe (rumman). Nos outros países a romã recebeu nomes inspirados de ‘Punica granatum’, sua designação latina. Granada em castelhano, grenade em francês, melagrana em italiano, pomegranate em inglês, granatapfel em alemão.

A importância, várias vezes milenar da romã, é referida no Antigo Testamento e no Egipto dos faraós. A Grécia da época clássica também lhe deu um estatuto especial ao consagrá-la ao culto de Afrodite e ao reconhecer-lhe poderes afrodisíacos. Mais prosaicamente, os helenos também lhe atribuíram virtudes medicinais, utilizando-a, sobretudo, na cura de doenças e/ou desarranjos estomacais e intestinais.


Estudos muito mais recentes efectuados por universidades prestigiosas (como a Universidade da Califórnia, por exemplo) vieram confirmar as qualidades antioxidantes da romã e o poder benéfico do seu sumo na prevenção e no tratamento de cancros da próstata. Outras pesquisas assinalam que o seu consumo pode ser eficaz na luta contra a osteoartrite e contra o envelhecimento. A romã é também utilizada com sucesso no tratamento de tosse persistente, de febre, de diarreia, de cólicas, etc. Enfim, sem ser uma panaceia, a verdade é que –como tantos outros frutos- a romã (e seus extractos) pode aliviar-nos de um certo número de maleitas.

Evocada por Luís Vaz de Camões no canto IX de «Os Lusíadas» («Abre a romã, mostrando a rubicunda cor, com que tu, rubi, teu preço perdes...»), a romã também inspirou, por essa Europa fora, vários provérbios e adágios, como o seguinte : «Quem romãs come em Janeiro, todo o ano tem dinheiro».

A romãzeira floresce em Maio/Junho. Os seus frutos amadurecem nos fins de Outono, princípios do Inverno e podem, assim, enriquecer os banquetes de Natal e de Ano Novo, conferindo às mesas da Consoada e do ‘Réveillon’ um ar de festa. Isto graças às suas inconfundíveis e gostosas pepitas cor de rubi.

Ainda uma nota curiosa sobre a romãzeira e os seus característicos frutos : quando foi fundado o município da Amadora, esta árvore (frutada) passou a ser um dos elementos principais do seu brasão de armas. Porque «a romãzeira simboliza a cidade que cresce em explosão demográfica e em renovação constante. Ela acolhe, dá felicidade e riqueza, qual fruto que rebenta quando maduro e não murcha».



Manuel Monteiro da Silva

3 comentários:

  1. Mas meu caro, as romãs, o dito fruto, que minha ignorância em sua terra lhe digo o dito fruto, o seu simbolismo e o seu significado, uma espécie, da espécie referida, na minha opinião, sem ser um fenónemo do Entrocamento, eu acho que em sua terra havia romãs de sangue, os gomos, o que sía, parecia sangue, que eu não sei o nome da dita árvore, mas havia, havia para os lados do pinhal e do telheiro.................

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  2. A HIstória, as históras da vossa história, tá quase tudo tão perdido, que esta da romã, a de sangue, não sei se foi fenómeno mesmo do Entrocamento, lá para os ládos do ribeiro do telheiro e pinhal como companheiro, como eu gostava de poder lembrar, registar o facto no seu melhor, se foi mesmo lenda, a realidade existente e que existiu, se ainda existe, o simbolismo que comportou no seio da mente do vosso povo, tá quase tudo tão perdido, que meus arquivos já foram e era uma lenda, que contínuo a não acreditar, e não deixa de ser a romãnzeira, uma viragem na abordagem, esse povo, vossas gentes...

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  3. Não sei se vai agora, não sei se vai mesmo mas que dantes que ia, doze gomes da dita, da romã, naquela altura a tradição se fazia, se comia.
    Era vosso povo e gente no seu melhor, que Janeiro, o primeiro, ao acordar, de Dezembro, que sendo o último, a exaltação, o suspiro, ele recebia e partia...

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