sexta-feira, 26 de junho de 2009

BREVE APONTAMENTO SOBRE O PÃO QUE SE COMIA NA COMENDA NOS ANOS 30 E 40 DO SÉCULO XX







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Moinho de Água no Vale de S.João











Este é o único Forno dos três públicos antigos que existe ainda actualmente na Comenda




Rua 5 de Outubro





Rua do Vale da Feiteira



O pão é, desde tempos imemoriais, o alimento de base da população portuguesa; que ainda hoje é, em toda a Europa, uma das maiores consumidoras desse produto insubstituível na dieta humana. E o alentejano é um caso particular no nosso país, já que come mais pão (de trigo) do que qualquer outro português, mercê da sua famosa culinária que o utiliza em abundância nalguns dos seus pratos mais emblemáticos : açordas, migas, sopas (de peixe ou de sarapatel), etc.

Quero lembrar aqui, de maneira simples e muito breve, a relação dos comendenses com o pão. A ver vamos se isto me calha bem...

Convém dizer antes de mais que, por essa época (décadas de 30 e 40 do século passado, como referi no título), ainda se produzia muito trigo e muito milho nas terras da nossa freguesia. Trigo e milho que os maiores agricultores da região lançavam no comércio nacional de cereais e que os mais modestos transformavam em pão, para satisfazerem as necessidades de suas casas.

Segundo informações colhidas junto de uma nossa conterrânea de oitenta e muitos anos (a minha própria mãe), havia no Castelo dois fornos públicos, funcionando ambos na actual rua 5 de Outubro. Artéria antiga da nossa aldeia, que, a acreditar no que me disse um outro dos nossos idosos, também já foi conhecida pelo curioso nome de Rua do Mija em Pé.

Note-se que estou a referir-me a fornos públicos, explorados por proprietários particulares, e não a fornos comunitários tal como existiram (e ainda hoje perduram) noutras comunidades do nosso país.

Os ditos fornos eram geridos tradicionalmente por uma senhora –a forneira- que, antes de os aquecer (com ramalhos e outra lenha miúda), tinha a responsabilidade de alertar as pessoas interessadas da hora em que poderiam trazer o pão para a cozedura. Cozedura essa que era efectuada vários dias por semana. Depois de cozido, o pão eram recolhido pelos respectivos donos ou transportado para os seus domicílios, em tabuleiros de madeira, pela própria forneira. Profissional que recebia, como recompensa do seu labor, um pão –de trigo ou de milho- por cliente ao qual ela prestava esse importante serviço.

O pão era depois conservado em casa, geralmente em arcas, num local propício à sua natural conservação. Esse alimento era de tal qualidade, que durava e se comia, sem problemas, durante uma semana. Da sua qualidade e sabor posso eu trazer aqui o meu testemunho, já que –na primeira metade dos anos 50- ainda cheguei a comer o pão que fabricava e cozia a minha avó materna (senhora Alice de Jesus Monteiro) num forno pessoal.

Abro aqui um parêntese para referir que o cereal, geralmente trigo ou milho, era, como é óbvio, previamente transformado em farinha nos moinhos da região, depois dos respectivos moleiros terem recolhido o precioso grão em casa dos seus clientes. Lembro que o último desses moinhos –o do Vale de S. João, junto à Ferraria- encerrou há poucos anos, por morte do seu proprietário, o popular e muito estimado senhor Luís Couteiro.

Convém dizer que, por variadas razões, havia comendenses que preferiam adquirir o pão que comiam a padeiros itinerantes vindos do exterior. Vindos nomeadamente da vizinha vila de Tolosa, onde esse alimento-base das nossas gentes era cozido nos fornos do senhor João Alves, um conhecido e próspero comerciante originário da Comenda e, por sinal, irmão da avó paterna deste vosso criado.

Posteriormente à era dos fornos públicos abriram na Comenda padarias, que comercializavam os seus próprios produtos. Eu recordo-me particularmente bem de uma delas (pertencendo ao casal José e Diamantina Carranca) que funcionou durante muitos anos na actual rua do Vale da Feiteira.

Este assunto não se esgota, naturalmente, nestas linhas. Muito haverá ainda para contar sobre o pão que, outrora, se comeu em Castelo Cernado. Nessa perspectiva, convido os leitores deste blogue a comentarem estas linhas e a completarem aquilo que aqui, singelamente e de maneira incompleta, fica registado.


Manuel Monteiro da Silva

6 comentários:

  1. Quero só juntar ao texto do amigo Manel algumas pequenas retificações,segundo algumas pessoas idosas existia 3 fornos públicos na Comenda , um realmente na actual Rua 5 de Outubro e que pertencia a António Simões, o qual ainda me lembro já que fui criado ali ao lado, hoje este forno já não existe.
    Havia outro na actual Rua do Vale da Feiteira que era do meu avó José Severino, tambem me lembro dele, e tambem já não existe.
    O terceiro ainda existe pertence a Fernando Geifão, e antigamente era da sua sogra a ti Senhorinha, e que se vê nas fotos.

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  2. O amigo " Manel ", o amigo Manuel Monteiro da Silva, ele tem, algumas vezes eu não concordando, ele tem muita razão histórica e social, seu apontamento e comentário tem uma verdade total, dois eram, havia na vossa mui nobre aldeia, eram dois fornos fornos na CINCO DE OUTUBRO, um do parente António Simões, o outro, o outro forno, ele está, ele se encontra no número vinte e dois...

    O´LUIS

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  3. Eram as bichas, que falar de pão, o alimento básico na alimentação, eram as bichas naquela altura, era uma fila na noite escura, nalguns sitíos, trocas de posição havia, parece que mudava, os últimos eram os primeiros, os primeiros que para últimos ficavam, e era, não deixa de ser tambem uma carroça, na noite partia carregada de pão, pelos montes, o pão por ela lá chegava...

    O´LUIS

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  4. É de todo o interesse e julgo que se enquadra muito bem ao tema, tem uma ligação muito forte, havia uma ligação ao produto final que é o pão, na altura, em tempos que já lá vão, a máquina do Mestre Carranca, depois do cereal estar ceifado, a máquina do " ti Mané Carranca ", ela era ao mesmo tempo enferdadeira e debulhadora, era um grande monstro aquela máquina, uns bons postos de trabalho a referida criava, que pelas herdades, que pelos casarios e herdades da vossa zona, a referida, ela, a máquina, a dita se deslocava, que não sei, a moagem na 31 de Jameiro, ela, com a máquina, parece que uma parceria se formava...

    O´LUIS

































































    O´LUIS

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  5. Não pode haver o esquecimento, um branqueamento inocente no apontamento, que, ao não se falar nos três moinhos, vosso povo e aldeia assim os definia, era o moinho de cima, o do meio, e era também o moinho debaixo, a vida, a vida e alimentação naquela altura, os dias, as noites por lá passavam, uma espécie de jogo, se jogava ao jogo do gato e do rato, os moinhos estando na outra margem do rio Sôr, uma importância enorme revelaram, foi muito importante na sobrevivência do vosso povo, a noite, na noite, as mulheres a medo de serem presas, no escuro, o alimento incompleto e a dita farinha, nessa altura a iam buscar, e eu, eu não sei se foi na de Espanha, ou, ou na Segunda Mundial, que no comboio, no comboio ia, lá se leia " sobejo de Portugal "...

    O´LUIS

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  6. Não posso precisar com precisão e um tiro bem no centro, a minha opinião, alguns anos atrás, estamos a falar de cereais, toda a agricultura que se praticava, uma parte, os proprietários das herdades eram os maiores responsáveis pela cultura que se praticava, que também havia os rendeiros, os que alugavam a herdade, mas também havia outra classe social, alguns chefes de familía, individualmente,não sei se a rendeiros, aos grandes proprietários se pedia, era um bocado de terra, era uma parcela de algumas dimensões, depois de estar estrumada, o cereal era lá lançado, desconheço de onde a semente era proveniente, penso que era o dono da " sorte " que lavrara, que também ceifava, era a cultura do " terço ", duas partes para um lado, uma parte para a outra parte...

    O´LUIS

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