segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TRISTE ESPECTÁCULO








Na nossa aldeia corre um fiozinho de água a que os comendenses chamam (ao que nos disseram) ribeira da Nave na sua nascente, ribeira do Senhor Padre no seu trecho intermediário e ribeira do Lagar junto ao seu término. O lugar mais pitoresco desse ribeiro é o denominado Poço Alvar, que se situa a escassos metros da estrada que liga a nossa terra ao Monte da Pedra e a outras localidades do vizinho concelho do Crato. Lugar esse que já serviu de lavadouro às donas de casa da Comenda de outros tempos e de piscina natural à mocidade de outrora. Durante milhões de anos, os elementos erodaram o solo granítico e transformaram esse sítio num curiosíssimo mini-canyon, por onde -durante as estações molhadas- a água se precipita numa também minúscula cachoeira. O Poço Alvar nada tem, naturalmente, a ver com as famosas cataratas do Niagara ou com as espectaculares quedas do Iguaçú; mas é, ainda assim, na sua pequenez, coisa bonita de se ver. Tanto mais, que o sítio está localizado num terreno onde crescem canaviais, que conferem ao lugar uma suave e repousante mancha de verdura. Abunda por ali a passarada e, quando a ribeira corre, não é raro distinguir em trechos mais calmos do seu curso, alguns cágados, além das habituais e coaxantes rãs. Enfim, o sítio de que falamos (e que a maioria dos jovens comendenses nem sequer sabe que existe…) é, apesar de minúsculo, um espaço natural da nossa terra que seria conveniente respeitar e proteger.
Infelizmente não é isso que acontece, pois alguns dos nossos conterrâneos mais descuidados -ou completamente divorciados da ideia que a Natureza se deve defender com unhas e dentes- vão ali despejar trastes velhos, que dão ao lugar o aspecto sujo e deprimente que as nossas fotos documentam. São electrodomésticos desactivados, restos de móveis e detritos de toda a espécie, que, sem contestação possível, estariam muito melhor nas lixeiras municipais do que ali, naquele sítio, a ofender os olhos de quem por lá passa e a testemunhar que aqui, na nossa aldeia, o espírito cívico ainda não é aquilo que deveria ser. Esta falta de sensibilidade até roça as fronteiras do desleixo e da falta de respeito pelos outros, quando se sabe que os monstros que ali estão a conspurcar a Natureza poderiam ter sido removidos das casas de quem para ali abusivamente os atirou pelos serviços camarários. Que, já há muito tempo, propõe a sua recolha a todos os munícipes.
Outros sítios da nossa aldeia têm sido alvo do mesmo tipo de atentados ecológicos. Atentados que tornam a Comenda mais feia e menos apetecida. Francamente gostaríamos que tal espectáculo acabasse de uma vez por todas. Voltaremos ao assunto nas páginas deste blog, por acreditarmos que pugnar por um Castelo Cernado mais limpo e mais civilizado é tema de interesse colectivo.

Manuel Monteiro Silva

2 comentários:

  1. Recordar. . . não existe melhor palavra!

    Século XXI, é esta a nossa Era, cheia de informação e ajudas, que não justifica estes atentados ao Meio Ambiente.

    É com imensa pena que leio este artigo, porque conheci o local em referência TOTALMENTE LIMPO.
    Durante o Inverno não era sítio para visitar, mas mal o ínicio da Primavera chegava,juntamente com as férias da Páscoa, lá ia o grupo de amigas e amigos dar as suas voltas de bicicleta. Neste local extremamente sossegado, brincava-se, ria-se, lia-se e claro os piqueniques, ahah os nossos grandes piqueniques.
    O tempo? As horas? Eram esquecidos..., agora o tempo urge, preenche a VIDA de cada um de nós, e só permite Recordar o que se Viveu.

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  2. Mas caro amigo Manuel Mnteiro da Silva, olhe que pode não ser " Poço Alvar ", mas sim, dizia-me ele, " Poço Salvar ". Quase muito parecido. Que quase muito semelhante na sua pronúncia. Vai uma dissonância oratória na tradição oral muito elevada...

    O´LUIS

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