quarta-feira, 3 de junho de 2009

RAMAL (FERROVIÁRIO) DE CÁCERES








Hoje, o acesso ferroviário mais fácil para quem quer chegar à Comenda em proveniência de Lisboa, é aquele que se faz pela estação de Belver, na linha da Beira Baixa. Isso devido à maior frequência de comboios circulando nessa via (agora totalmente electrificada) e, também, à melhor qualidade das estradas que, a partir da acima referida estação, permitem uma rápida e cómoda ligação à nossa terra.
Mas houve tempo em que a estação ferroviária mais utilizada pelos nossos conterrâneos foi a da Cunheira, situada no ramal de Cáceres : um tramo de 81,5 km, que começa na Torre das Vargens, serve as estações da Cunheira, de Vale do Peso e de Castelo de Vide e que tem o seu término nacional na estação de Marvão-Beirã, às portas de Espanha. Nos anos 50 do século XX a ligação da Cunheira à Comenda fazia-se através de um caminho de terra, bastante acidentado, que atravessava a ribeira de Sôr (pela ponte de alvenaria construída pelo mestre José Alves) e o Vale da Feiteira.
Os meios de transporte utilizados da estação da Cunheira para a Comenda eram os mais variados : a butes (perdoai o termo), de bicicleta, de carroça (o mais utilizado) ou, raramente e para os mais afortunados, de automóvel. Eram para aí uns 7 km percorridos pelo meio do montado de várias e extensas herdades, que colocavam os viandantes em contacto directo com uma natureza esplêndida e muito apreciada (em particular pelo seu ar puro) pelos comendenses provenientes da já então poluída cidade de Lisboa e das vilas da sua cintura industrial, especialmente do Barreiro.
Serve isto de pretexto para, sucintamente, traçarmos aqui a história do ramal de Cáceres, que, como já vimos, tão útil foi aos comendenses de outrora.
O ramal de Cáceres (hoje quase desactivado) comemorou o ano passado (em 2008) 130 anos de existência. A sua construção, iniciada em 1878, terminou dois anos mais tarde e a via (que prosseguia no país vizinho na direcção de Madrid, onde chegou em 1881) foi considerada de tal modo importante nas relações entre países ibéricos, que isso justificou, aquando da sua inauguração, um encontro –em Valência de Alcântara- entre os reis de Portugal (D. Luís) e de Espanha (Alfonso XII).
As justificações que levaram à realização da ferrovia que atravessa a nossa região foram, essencialmente, as seguintes : aproximar ainda mais as duas capitais da Hispânia, já que a linha do Leste, via Elvas e Badajoz, não era nem a mais directa, nem a mais rápida; facilitar o acesso a Lisboa das isoladas populações do norte alentejano; permitir o tráfego nacional e internacional de mercadorias, nomeadamente o dos fosfatos extraídos na região de Cáceres para o porto de Lisboa. Note-se ainda que, a partir de 1887, esta via começou a ser utilizada regularmente (uma vez por semana) pelo célebre e prestigioso comboio Sud-Express. Foi também por aqui que, muito mais tarde, passaria a transitar o Lusitânia, pachorrento, mas confortável comboio-hotel.
A condução dos trabalhos desta ferrovia foi entregue a um engenheiro português formado na Bélgica : D. João da Câmara. Personagem que foi, diga-se a título de curiosidade, bisavô do famoso fadista D. Vicente da Câmara, o criador da «Menina das Tranças Pretas». Inspirado nessa sua experiência profissional, o engenheiro D. João da Câmara colheu matéria para escrever uma peça de teatro intitulada «Os Velhos», cuja acção decorre em Santo António das Areias ao tempo da construção da ferrovia. O enredo do livro põe frente a frente os Progressistas da região, empenhados na realização do caminho-de-ferro, e os Conservadores, que, naturalmente, estão contra essa ‘indesejável’ modernice.
A propósito do ramal de Cáceres, referiremos ainda, antes de terminar este breve e modesto texto, que um movimento de cidadãos –o GAFNA, Grupo de Amigos da Ferrovia Norte Alentejana- luta empenhadamente para que o ramal sobreviva e se desenvolva; e também para preservar a sua memória e o seu património histórico. Entre o referido património encontram-se os magníficos trabalhos de azulejaria das estações do Vale do Peso, de Castelo de Vide e de Marvão-Beirã, que se contam entre os mais bonitos do nosso país, e que é indispensável preservar e proteger das ameaças do tempo e dos criminosos (e agora tão frequentes) actos de vandalismo.


Manuel Monteiro da Silva

8 comentários:

  1. Quero agradecer ao Amigo Daniel por ter criado este espaço e pela dedicação à sua Comenda. Agradeço também ao Senhor Manuel M. da Silva que com os seus textos vai contribuindo para o nosso enriquecimento cultural e para que não se percam as "histórias" dos nossos antepassados. A propósito do artigo sobre o ramal ferroviário quero acrescentar que tive o prazer de apreciar os azulejos da estação da Beirã (Durante uma etapa do circuito de BTT do Norte Alentejano)e merece uma visita mais demorada pois a estação é fantástica. Força Daniel.
    Abraço, Carlos Alexandre.

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  2. Devido ao congruente tráfego intenso e a sua robustez, a energia e a força de expansão do seu movimento, um movimento abundante na via de comunicação terreste entre os dois povoados, na altura, anos 50, (anos 60(?)), o executivo da Freguesia de Comenda, a profundidade do seu pensamento, na altura, a grande penetração do seu espírito deliberativo e decisão respectiva era a construção e traçado de uma estrada alcatroada entre as duas localidades e povoados.

    O´LUIS

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  3. Não posso esquecer Francisco Carvalho, eu não posso esquecer o Mestre Chico Carvalho, que, com a sua mula, não sei se era todos os dias, mas três na semana era, ele, ele e ela, na minha opinião, foram os seres que talvez, na dita estrada, mais por lá deixaram as suas vidas mais tempo.

    Mesmo que a construção da estrada, o traçado entre as duas localidades tivesse sido realizado. o trajecto continuaria a ser, Portela-Feijoais-(monte do cabeço)Vale da Arrabaça.

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  4. Era o Mestre Carvalho, era mestre " Chico Carvalho ", ele, ele com a sua mula e a sua carroça, as mercadorias e os jornais ele trazia, que também se lia, as notícias quando eram lidas, algum tempo já se fazia...

    Talvez a porta aberta para o mundo, o País, a estação e o trajecto, naquela altura, era a via de comunicação mais rápida, que isso dos anos 50 ainda demorava...

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  5. Antes da mesma ser construída, as vossas gentes, o povo naquela altura, os vossos muito queridos antepassados, o povo do " Castelo da Comenda " e do muito irmão " Vale de Tóquio ", eles passavam numa outra, que diz a " tradição oral " que era " mourisca, mas na minha modesta e pura opinião, ela, a ponte onde se passava, era romana, estava muito junto da Vila do Sourinho, que eu, quando lá passei com os meus amigos de arqueologia(s) em 1996, o tabuleiro da dita, intacto no leito do rio Sôr, ele dentro do rio Sôr, ele ainda lá se encontrava na data citada.

    Não sei quando a " mourisca ", ela se foi abaixo nas suas canetas, apenas sei, que a do Mestre Zé Alves, antes de ser construída, uma " vaquinha " se fez no seio das vossas gentes, um peditório, não sei se a " Câmara " e algum proprietário da zona, alguns valores e dinheiros desbloquearam, a do Mestre, ela foi inaugurada em 1930...

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  6. Mas perdoai, Presidente do meu País, perdoai, perdoai estas gentes do meu País, do nosso muito querido País, estas coisas do interior que também se é gente, que não se está vendo, a competividade parece que é modernidade, o americano eu só conheço um e é no Monte da Pedra a sua muito querida residência, a História de suas GENTE, muitos anos eu gemendo nesta dor e um fado mal cantado, um canto da Charneca eu cantando, o seu desenvolvimento é o seu passado, o seu passado e o que ficou, a oferta e a diferença, o turismo parece que se ausentou e ainda não ficou, que eu, numa cultura da pedra lascada, local, eu " quero ir para a ilha ", me perdoai também....

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  7. Que não sabendo mesmo, é este meu desconhecimento total, a pena, este meu sentimento, que não sabendo mesmo, quando a " mourisca ", a rapariga se foi, a mulher adulta, que cansada, suas rugas na pele se entrenharam, a vontade de viver, a sua, que ela se negou, e os pilares, o sustento do seu corpo, abaixo em suas canetas se foram, não deixo, como em mim me custa tanto, não sabeis quanto, ao meu amigo e parente, é uma homenagem que se deve, ao meu amigo António Martinho, o Sr., alguma razão é capaz de ter ao lhe chamar " mourisca ", que eu voltando.................

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  8. Pode o meu amigo António Martinho ter alguma razão, embora me custando tanto e ter que meu braço dar a torcer, pode o meu amigo (ao muito) no jornal o " COMENDA ", um artigo que lá deixou, que falando da do " MESTRE ", a outra, a do Sourinho, ele lhe chamava " mourisca ", se mourisca, na sua interpretação arquitectónica e no seu significado, na opinião minha, ela no seu tabuleiro ter meia lua, meia curva, meio cabeço redondo, meio(a) (...), que eu não sei quantos arcos tinha, mas julgo e penso que era um.

    O´LUIS

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